Blog da Associação Portuguesa de Cister (Apoc)

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A ESPIRITUALIDADE QUE ME CATIVOU




Era o ano de 1992. Pela primeira vez visitava o Mosteiro de Santa Maria Real de Oseira (Ourense).


Foi aqui, no silêncio deste belíssimo claustro, que então descobri a espiritualidade cisterciense. Pisando aquelas velhas pedras, ao cair da tarde, quando o Sol, que se vai, deixa marcado no chão o desenho das vidraças, sentindo o silêncio, onde Deus vive, arrebatou-me um sentimento estranho: era como se aquelas pedras me sussurrassem os seus antiquíssimos segredos, histórias de monges, que ergueram aquelas ruínas para viverem uma vida solitária, com Deus.

A vida cisterciense é essencialmente contemplativa, sem nenhum ministério externo. Os monges não arrebanham ovelhas. Esperam que elas vão até eles por livre iniciativa, por inteira vocação.
«Ora et labora» é a divisa beneditina, e estes monges brancos fazem da sua vida uma entrega total a Deus, pois é do Ser Supremo que tudo emana.

Em Oseira predomina a espiritualidade monástica, e segundo palavras de Frei Damián, talvez se devesse a esta perenidade de valores, a afluência, naquela altura, de jovens a Cister.

Apesar da austeridade da vida monástica cisterciense, ela está adaptada aos tempos de hoje. O dia começa às quatro da manhã e termina às nove e meia da noite, sendo repartido entre a oração e o trabalho, num tal equilíbrio que não torna monótono o seu quotidiano. Há também tempo livre para a formação espiritual e científica, para ler, ou simplesmente passear e partilhar com Deus a Natureza envolvente: um belíssimo bosque e um riacho.
Nos ofícios divinos, distribuídos pelas horas canónicas, os cânticos elevam-nos às alturas, e consolida-nos a fé.

E foi ali, no Mosteiro de Oseira, onde nas mãos da Virgem Maria os monges colocam o mérito de uma vida de total consagração a Deus, que eu própria me reencontrei com Deus.
Mérito, que conforme escreveu Frei Damián, «não deixará de ser aceite aos olhos de Deus, quando é oferecido por mãos virginais, que no sentir de São Bernardo, estão impregnadas do perfume das açucenas».

E esse perfume sente-se quando ao cair da tarde, nos passeamos no claustro, pisando um chão de luz...

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